"A Alma de um Poeta"


Quando a alma do poeta converter-se em amargura,
No
 céu não mais terá um anjo puro.
As estrelas fugirão pra um outro cosmo.
O orvalho não tocará a verde relva.
No horizonte não mais se avistará o pôr-do-sol.
E opaco será cada luar.

Quando a alma do poeta converter-se em amargura,
Não
 se ouvirá o cantar da cotovia.
O rouxinol não morrerá por uma rosa.
Wherter não se comoverá ao ver Charllote ,
Repartir os pães entre seus irmãos.
O corpo não estremecerá ao ouvir o nome da pessoa amada.
Os amantes não viverão talvez jamais amores santos.
Não haverá juras de amor inesperadas,
Nem o olhar abobalhado de quem ama haverá.

Quando a alma do poeta converter-se em amargura,
Ninguém
 recordará o primeiro amor.
A história dos amantes de Veneza não mais será contada.
Apagará a lembrança do primeiro beijo.
A natureza perderá o seu encanto.
Flores murcharão pelo caminho.
Cinzas vão pairar por sobre a tarde .
E o sol transformará seu fogo em gelo.

Quando
 a alma do poeta converter-se em amargura,
Não
 verteremos, na madrugada, lágrimas sobre o leito,
Por saber que o amor que temos não será retribuído.
Também não misturaremos o riso e o pranto,
Quando em uma noite chuvosa e fria,
Formos surpreendidos com um “EU TE AMO”!

Quando a alma do poeta converter-se em amargura,
Não
 mais se recordará da pureza da infância.
O rubor não invadirá a face da menina que desperta para o amor,
As crianças se precipitarão a perder sua inocência,
Palavras azuis minhas mãos não mais escreverão,
Talvez só as mães permanecessem imutáveis,
Se a alma do poeta converter-se em amargura.

Por isso peço-vos Poetas.

Conservai sempre uma doçura lírica em vossas almas.
Pois se um dia  a alma do poeta converter-se em amargura,
Neste
 dia, então, enfim,
Extinguirá a chama que abrasa em meu peito agora,
Terá chegado o momento derradeiro,
Onde morre a felicidade,
Onde morre a esperança e o sonho,
Onde morre o amor,
Morre a poesia,
Morre o poeta.

CLAY REGAZZONI


(direitos reservados ao autor)

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